Hard to explain

A gente se afasta inconscientemente. Se afasta tão silenciosamente que ao dar-se conta vem aquela lembrança súbita no meio da manhã: “Minha nossa nós éramos amigos”.
(Caio Fernando de Abreu)

S/N P.O.V

Daniel estava sentado ao meu lado na arquibancada, nós usávamos capas de chuva transparente e olhávamos Niall correndo ao receber a bola.
- Ele é bom nisso - eu falei suspirando e juntando minhas mãos no meu colo. Daniel concordou com a cabeça e olhou para o lado pegando o celular e dando play na música, ele me passou um dos fones e eu coloquei ouvindo a melodia de My Chemical Romance enquanto nós esperávamos Niall acabar o treino.
- Odeio essa coisa - ele disse por fim segurando minha mão.
- Niall é nosso amigo Dan - falei com a voz firme apertando a mão de Daniel. Ele odiava o time de futebol da nossa escola, e com razão já que esses idiotas sempre achavam um jeito de ficar sob a pele dele.
- Eu sei ok, não sou um traidor! - ele brincou de estar ofendido enquanto eu via Tom, o capitão do time, dar um tapa nas costas de Niall quando ele acertou um lance de longe. - Mas como um dos nossos amigos vira jogador? Sério, sem ofender S/A, mas você por exemplo é uma maria mole.
Ele sorriu e ergueu as sobrancelhas daquele jeito muito Daniel e eu o empurrei.
- Quieto mister fogão - falei o provocando pela sua habilidade com culinária. Algumas gotas de chuva começaram a cair e eu coloquei a touca da capa.
- Será que ele vai almoçar com a gente?
- Claro que sim - respondi rapidamente.
- Sei... - nós acenamos para Niall quando ele nos viu e sorriu - espero que ele não vire um esteriótipo com músculos, mas sem cérebro.
- Espero que ele não nos abandone - falei sentindo uma pequena picada no peito. Daniel e Niall eram meus amigos desde o começo do Ensino Médio, não me via sem os comentários maldosos/irônicos de Daniel, ou a risada contagiante e os olhos azuis de Niall.
- Você com certeza não quer - ele insinuou e eu revirei os olhos.
[...]
Niall estava um pouco mais forte esse ano, o aparelho nos dentes só deixava a boca dele mais desejável, se eu dizia isso em voz alta? Sim, para Daniel uma vez, e por isso agora sofro. Ele também tinha começado a treinar duro para os testes do time. Bem, obviamente ele conseguiu, acho que a única coisa ruim era não saber quando Niall ia para o lado deles, quando ia preferir beber com jogadores ao invés de fazer doces com Daniel, ou enfiar a língua na boca das lideres de torcida ao invés de ficar a tarde assistindo filmes franceses legendados comigo. Se Niall decidisse virar um deles eu sabia que eu escolheria ficar com Daniel, que depois de um tempo pararíamos de conversar e ele não iria aparecer para jogar boliche no último sábado do mês.
[...]
Alguns dias depois.
No refeitório enquanto todos almoçavam eu e Daniel apenas conseguíamos ficar encarando Niall com a jaqueta do time sentado na ponta do banco com as pernas fora da mesa enquanto parecia estar entretido em uma conversa animada com Tom e o resto da mesa. Vendo aquilo eu odiava o jeito que Niall conseguia fazer todos gostarem dele.
- Ele literalmente foi para O lado negro da força - Dan molhava a batata frita dele no meu copinho de ketchup enquanto citava Star Wars.
Eu queria defender Niall e acreditar nele quando ele não aparece na casa de Dan e diz "Tenho que me sincronizar com o time". Mas eu não queria deixar Daniel mais irritado, nem me envergonhar defendendo o garoto que largou amizade por festas e mesa no centro do refeitório.
Daniel balançou a mão na frente de meu rosto: - Estou falando com você!
- Desculpa, estava pensando em Niall - falei dando de ombros. - ele ainda pode se reabilitar sabe - tentei sorrir e Dan revirou os olhos.
- Você que deve se reabilitar e esquecer o Niall de antes, ele é impossível.
- Impossível literalmente? - perguntei desviando os olhos da mesa "deles" e focando no sanduíche desmontado em meu prato.
- Totalmente literal - Daniel disse e depois assoviou me fazendo seguir sua linha de visão e ver Niall acenando para nós e levantando da mesa. Ele não deu quatro passos antes de o sinal bater, eu fiquei sentada ainda esperando, Daniel estava de pé estendo a mão e me apressando. Niall estava virando as costas e seguindo o resto do time para o treino.
Significado:
im·pos·sí·vel (latim impossibilis, -e)
1. Não possível.
2. Irrealizável.
3. Incrível.
4. Intolerável.
5. Inexistente.
Frases com a palavra impossível:
"Impossível voltar a possuir Niall"
[...]
Quatro dias depois de Alguns dias depois.
- Animada? - Daniel perguntou enquanto colocava o dvd de "Little miss sunshine". Suspirei deitada no sofá grande da sala da casa do pai de Dan. Nossas noites de cinema tinham parado de ser na minha casa desde que era só Dan e eu agora.
- Você sempre escolhe os mesmos filmes, em ordem, sempre os mesmos cinco. - falei enquanto ele dava play e deitava no outro sofá.
O filme começou e eu comecei a recitar na minha mente as falas que eu lembrava.
- Niall faz dezessete daqui dois dias.
Eu sei, em minha mente minha voz era dura, mas se eu falasse ia sair chorosa, como quando Niall me derrubou dos meus patins quando tínhamos nove. Não respondi Daniel, e esperava que a falta de iluminação escondesse minha carranca nada feminina.
[...]
Meses depois dos quatro dias que vinha depois de Alguns dias.

Niall Horan P.O.V

Olhei de relance para a mesa onde S/N e Daniel estavam dividindo com mais quatro alunos que eu nunca tinha notado. Eles todos riam auto, Daniel usava o ketchup de S/N, ela desmontava o sanduíche e comia as rodelas de tomate primeiro, e tinha o garoto de camisa xadrez e cabelo loiro. E olhando ele sentado ao lado da minha amiga eu sentia-me traído, como S/N podia arranjar outro loiro assim? Eu estava imaginando o garoto de xadrez engasgando com o pedaço de maça que ele comia quando Stacia inclinou para falar comigo.
- Porque essa cara? É porque não vai jogar? - ela perguntou perto do meu ouvido tentando ser ouvida por cima da bagunça de Tom. Olhei para o rosto oriental americanizado dela e lembrei como ela tinha ficado sem graça quando eu a chamei de Anastácia na frente de todos.
Ela não gosta de Anastácia, prefere a abreviação.
Sua mãe é oriental, e o pai estadunidense.
Ela gosta de dançar.
E eu vou chamá-la para o baile.
- Não, o treinador está certo, tenho que treinar mais - falei tudo depressa percebendo que que tinha ficado muito tempo quieto. - Quem é oriental na família? - perguntei sorrindo.
Eu era um trapaceiro. Eu já sabia porque Misha tinha me contado. Anastácia tinha começado a contar sobre a avó materna dela quando eu ouvi uma voz familiar gritar meu nome junto com risadas ofegantes.
Virei o rosto e S/N parecia mortificada enquanto percebia a atenção que tinha chamado, a camisa dela estava com uma macha enorme de mostarda na frente, Daniel estava mandando as pessoas das mesas em volta eles cuidarem da própria vida e o garoto loiro tinha as mãos perto da barriga de S/N parecendo que estava fazendo cócegas nela antes do "incidente".
Balancei a cabeça e olhei para Anastácia que ria um pouco assim como quase todo mundo.
- Pode ser outro Niall - dei de ombros envergonhado e ela riu doce tirando o cabelo preto tão escuro que parecia azul do rosto e dando um tchau em voz baixa enquanto voltava para o outro lado da mesa com as amigas dela.

S/N P.O.V

Daniel e eu saímos andando rapidamente, para não dizer correndo, do refeitório. Nós estamos na frente da pias perto do ginásio, onde nós dois molhávamos papel toalha para tentar limpar a mancha da minha blusa. Eu usava a camisa reserva de Colin, ele tinha uma no armário, e afinal a culpa era toda dele mesmo.
- Ok, Colin estava tentando chamar sua atenção, só não entendi a parte de gritar o nome de Niall como se estivesse na cama dele - Dan me fez sentir-me envergonhada comigo mesma novamente no espaço de cinco minutos.
- Foi sem querer, ele me fez cócegas e eu lembrei de Niall - falei evitando olhar para ele, evitando piscar para não chorar, evitando lembrar da risada escandalosa de Niall quando o cutucava nas costelas, seu ponto fraco.
[...]
- Se você quiser andar com Niall tudo bem pra mim S/A - Daniel disse mais tarde na aula de Educação Física. Eu parei de despedaçar a flor em minha mão e olhei de olhos arregalados para ele.
- Não! Sou tão pouco confiável assim? Não viu deixar meu melhor amigo.
- Segundo melhor amigo - ele resmungou - Niall sempre foi primeiro.
- Primeiro agora, e o melhor também - falei deitando a cabeça no ombro de Daniel - o único que vai me aguentar para sempre.
- Não sei não, os garotos espertos gostam de meninas inteligentes e agradáveis - ele sorriu abertamente para mim.
- OOOH, eu sou agradável e inteligente, garotos por favor, venham me pegar.
- Sem problemas - Colin disse com um sorriso sugestivo enquanto sentava na grama conosco.
- Hey - falei jogando as pétalas despedaçadas nele - isso não foi para você.
- Ba dum tss - Daniel disse provocando Colin e então eles estavam em uma briga boba de comentários que nem garotos de oito anos usavam mais.
Colin não era tão loiro quanto Niall, e a risada não era tão alta também. E isso é bom, nem as pessoas que nos decepcionam podem ser substituídas as vezes, é como um carimbo que elas deixam antes de ir, um bilhetinho dizendo "passei por aqui", um lembrete constante da natureza estranha das pessoas.
Meio sem sentido. Totalmente sem sentido. Edilaine Stark.

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