In The 1975, com Louis, parte dois

Saudações pretty babes, cada número é um momento, sem ordem cronológica, mas será obvio que alguns vem antes de outros.
Muita saudade, e a leve impressão que já vou tarde.
(Chico Buarque)

Flashback on durante toda a história.
Iniciando contagem regressiva. Prepare-se viajante.
10.

S/N P.O.V

Kenan tinha virado habitante de NY quando eu ainda estava entre seis e sete anos, não lembrava de muita coisa sobre ele na minha infância, não lembrava de ele ter puxado meu cabelo, ou me empurrado na neve quando nossa mãe dizia para não sair de casa em dia de neve. Quando citei isso casualmente em um jantar de família - um que Kenan não apareceu porque tinha nevado muito durante e a noite e os aeroportos estavam fechados - recebi reprimendas de todos, minha vó paterna dizendo que eu tinha a boca grande para minha idade, meu pai contando para seus irmãos, meus tios, como o AP que Kenan estava ficando nem era dele, e minha mãe dando quase um grito para dizer que Louis era o dono do lugar e o único amigo bom de Ken na cidade.
Louis alguma-coisa, britânico e todo charmoso. Ele foi convidado para as festas de Natal da nossa família quando Kenan contou que era aniversário de Louis e ele ia passá-lo sozinho. E eu não gostei nada, não gostava de Louis grudado em meu irmão, não gostava de Kenan vendo em Louis o irmão mais velho que eu queria que ele fosse para mim. Vai ver Kenan preferia futebol e eu casa de chá, ou quem sabe nossa mãe brigava com ele por causa de mim. Não sei, só não sentia com Ken aquele laço que irmãos tem, até minha amiga Selena com seus irmãos gêmeos e meninos dizia que era a coisa mais legal do mundo poder ser exemplo e também ter pequenos escravos com dedinhos sujos de chocolate. Será que faltou isso? Não sujei a cara de Kenan com chocolate? Não o segui pela casa toda querendo brincar?  
Eu quero um irmão mais velho. Nunca fui muito ocupada, entre passar o tempo lendo, saindo com Selena, estudando e hibernando no sofá em frente e TV, eu tinha bastante tempo para pensar em qualquer tipo de besteira que criasse raiz em minha mente.
E eu queria ir para NYC.
9.
Eu olhava para fora pela janela de cortina verde-limão que tinha no quarto que eu ia ocupar durante minhas férias, minhas férias com Kenan, e obrigatoriamente com Louis. Ele tinha ido me buscar no aeroporto com um carro de tintura azul que ficava quase preta quando batia o sol. Pelo que tinha entendido Kenan estava ocupado no trabalho. Ken escreve, segundo minha mãe ele sempre escreveu, desde fábulas para a escola, histórias com desenhos de dragões, pequenos sonetos para a oitava série, e algumas histórias que eu gostava de ouvir quando era criança. No bolso frontal da minha mala estava a pasta com meus desenhos, eu queria que Kenan os visse, talvez criar algum laço fraternal mostrando que nós tínhamos talentos parecidos. Mas ele não voltaria hoje. E Louis estava lá embaixo fazendo não sei o que, e desde que eu ficaria na casa dele decidi que deixaria de lado o ciúmes que sentia por Kenan.
Desci a pequena escada de metal segurando nas grades enfeitadas como apoio, tudo naquele lugar aparentava ter saído da casa de um escritor de poesia beat, não me surpreenderia se Kenan dissesse que ele e Louis saiam viajando por aí em uma van ouvindo jazz e escrevendo poesia regada a drogas em qualquer pedaço de papel amarrotado que encontravam pelo chão. Sentei no sofá ao lado de Louis que estava com um exemplar de Grand Gatsby um tanto surrado apoiado na coxa coberta com moletom cinza de pano leve, uma xícara de chá repousava na mesa de centro ao lado da outra perna dele. Sentei na poltrona solitária de couro sintético verde escuro e me senti fora de lugar com meu jeans de corte moderno e camisa com estampa jovial, Louis não dava a indicação de ter me visto e eu não queria abrir a boca e atrapalhar a leitura dele, isso foi quando ele largou o livro com tudo no sofá e bebeu mais um gole de chá antes de me encarar.
- O que você precisa? - Louis perguntou me encarando com os olhos que eu não sabia dizer se eram azuis com minusculas lascas de verde, ou totalmente azuis cristalinos, pelo menos não de longe, mas Louis não ia achar normal se eu simplesmente pedisse para ele ficar sentado perto do sol enquanto eu tentava desvendar a cor de suas íris.
- Eu nada - falei tentando soar casual e olhando para a mesa de centro e depois desviando o olhar quando percebi estar encarando os pés dele. Deus, ele deve ter percebido, agora vai achar que eu tenho fetiche por pés, ou talvez dizer para Kenan que eu sou estranha demais e ele tem medo de mim. - Então, Grandy Gatsby...
Ele sorriu de lábios fechados coçando o queixo e se espreguiçando antes de virar o corpo para deitar no sofá.
- E você já leu? - eu franzi a testa e ele riu sarcástico jogando a cabeça para trás - pensei que a irmãzinha de Kenan saberia reconhecer uma boa leitura.
- Gim, obsessão por sexo e um homem triste querendo reconquistar a ex-namorada. Não é a minha leitura preferida - dei de ombros.
- Nenhuma quantidade de fogo ou de frescor podia competir com aquilo que um homem é capaz de armazenar no seu coração fantasioso - ele citou com uma voz extremamente séria acompanhada de solenes olhos azuis me fazendo não gostar no jeito que ele se achava inteligente.
- Tempo faz os clássicos, não a qualidade - tentei soar o mais doce possível.
- Argumento falho. Porque não gosta de Grandy Gatsby? Prefere Harry Potter? Ou é do tipo Nicholas Sparks?
- Gosto de livros.
- Te ofendi? - ele perguntou levantando e pegando o livro do lugar dele. Louis andou até a cozinha que era separada da sala por uma bancada e deixou a xícara na pia.
Louis andou até onde eu estava sentada e jogou o livro em meu colo, falando enquanto subia as escadas.
- Considere um desafio - ele disse desaparecendo no segundo andar e segundos depois ouvi uma porta sendo fechada.
Passei a mão na capa meio desfeita nas pontas, essa não era a versão com capa ilustrada, mas em compensação era de capa dura, olhei para o relógio e decidi que ia me embrenhar no desafio de Louis antes de jantar.
Fechei a porta do quarto e deitei na cama de solteiro com lençóis limpos, peguei o livro em minhas mãos e comecei a leitura.
8.
Depois do cinema Kenan, Louis e eu tinhamos voltado para casa tendo sido decidido que iríamos pedir comida italiana.
Fui direto para meu quarto trocar de roupa, Louis estava no quarto ao lado, batendo na parede uma vez, um golpe preciso na parede oca do quarto dele que iria ecoar no meu, eu sorri comigo mesma enquanto penteava meu cabelo, bati três vezes na parede oca que dava para o quarto de Louis, e depois ouvi atentamente enquanto a porta abria e depois a campainha tocava, Louis gritando para Kenan que o dinheiro estava na fruteira, e depois a porta do meu quarto abrindo e um Louis escorrendo sorrateiramente para dentro.
- Kenan está aqui, saia - falei sabendo que um sorriso tentava escapar de meus lábios.
- Não - ele diz e eu suspiro andando até ele na porta e depois botando a cabeça para fora me certificando da ausência de Kenan antes de dar um pequeno beijo casto na boca de Louis. - Kenan está pagando e preparando a comida na cozinha-sala.
- Então quanto tempo temos?
- Exatos três minutos antes que ele comece a gritar meu nome. - ele disse mostrando orgulhoso o relógio/cronometro que tinha finalmente alguma utilidade. Louis brinca com cuidado na borda de minha camisa tocando eventualmente a pele de minha clavícula, me sentindo engolir seco antes de eu erguer os pés apenas o suficiente para poder esfregar minha bochecha contra a barba rala da sua mandíbula.
- Hmm - gemo em deleite e Louis ri abafado - os garotos que eu beijei não tinham barba.
Então os braços de Louis estavam serpenteando em torno da minha cintura e sua boca estava sobre a minha, a maneira com que Louis me beijava me deixava mole em seus braços e eu sem perceber sempre acabava com o corpo apoiado contra o muito maior de Louis.
Suas mãos tinham começado a enrolar meu cabelo quando ouvimos a voz de Kenan gritando por mim e depois chamando Louis para comer. Deixei minhas mãos saírem de perto do calor opressor de Louis e desenrolei as mãos dele de meu cabelo, me afastei e respirei fundo enquanto Louis fazia questão de lamber os lábios e me abraçar beijando meu pescoço antes de sair correndo do quarto gritando ofensas para Kenan.
Desci um minuto depois dele, meu cabelo no lugar e boca já na cor normal.
- Parem de agir como crianças por alguns minutos - gritei enquanto descia as escadas e Kenan riu empurrando Louis enquanto o mesmo retribuía a graça antes de me olhar de lado e sorrir quando Kenan desembrulhava os pequenos pães.
7.
Eu estava de boca aberta olhando para Louis que estava parado a um braço de distância de mim, retirei minhas mãos do peito dele devagar e me arrastei para trás no sofá. Eu sabia o que tinha sido isso, droga, eu sabia que tinha acabado mais próxima de Louis e não de Kenan, e também sabia que eu era para Louis a irmã do amigo, talvez a garota que ele possa beijar e encher o saco, mas não uma mulher para conseguir acompanhá-lo na loucura de NY.
- Olá a todos - Kenan falou enquanto entrava, fechava a porta e tirava o casaco, ele não parecia ter notado o clima estranho na sala, olhei para Louis que grifava com marcador laranja os trechos que eu tinha marcado a lápis em seu livro.
Levantei do sofá resmungando um boa noite e correndo para o quarto, ouvi Kenan resmungar alguma coisa e Louis rir levemente.
[...]
Eu já estava deitada e olhando para o teto quando ouvi as três batidas fracas na minha porta antes de um papel entrar por debaixo da porta. Respirei fundo e levantei de uma vez na cama pegando o papel e sentando no chão perto da janela antes de abrir o papel que estava dobrado várias e várias vezes. Uma letra rabiscada em caneta preta cobria todas as linhas existente no pequeno pedaço.
"Sorriu com um ar de compreensão – muito mais do que compreensão. Era um daqueles sorrisos raros com uma qualidade de eterna reafirmação, que encontramos uma quatro ou cinco vezes na vida. Ele se defrontava – ou parecia se defrontar – com todo o mundo externo por um instante e então se concentrava em você com uma parcialidade irresistível a seu favor. Ele o entendia na medida em que você desejava ser entendido, acreditava em você como você desejaria acreditar em si mesmo e lhe garantia que guardava de você a impressão que, à melhor maneira, você esperava transmitir."
- Grandy Gatsby.
Vai contar para seu irmão? Bata duas vezes na parede para não, três para avisar e então poderei fugir antes de Kenan tentar me matar.
Mordi o interior da minha bochecha enquanto andava até minha mala e guardava o bilhete junto com os desenhos e esboços. No caminho para a cama bati duramente os nós dos dedos duas vezes contra a parede oca que dava para a parede de Louis, ele bateu de volta uma vez, resolvi imaginar que aquela era a maneira dele de dizer obrigado.
Continua a partir do 6.

6 comentários:

  1. Bite your face to spite your nose
    17 and a half years old
    I'm worrying about my brother finding out
    Where's the fun in doing what you're told?

    10...9...8...7...

    Xx.

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  2. One moment I was tearing off your blouse now you're living in my house, what happened to just messing around?
    5...4...3...2...1... (?)
    \V/

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  3. Está extremamente perfeito, continue logo!

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    1. Hey gata, vou continuar só depois de escrever o do Harry (promessa aqui).
      \V/

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  4. meu deussss, continue logo meninaaaa!

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    1. Eu vou, depois de escrever a quarta parte de tyrannical, muito especial abandonado nesse blog ç.ç

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